sábado, 11 de julho de 2009

Os emplastros

Emplastro: Alguém que, voluntária ou involuntariamente, está a mais na fotografia. Penetra que faz tudo parecer ainda pior do que já é, ou que estraga o que até estava a correr razoavelmente bem. Por exemplo:

O Guarda Abel no julgamento das agressões de Pinto da Costa a Carolina Salgado (ou vice-versa, já não sei bem) - Com todo o processo de beatificação de Pinto da Costa a correr como planeado, em mais uma sessão pública de esclarecimento destinada a comprovar que toda a relação entre o presidente do Porto e a dançarina exótica não passou de um complô, aparece o sinistro Guarda Abel (assim mesmo, Guarda de nome e Abel de apelido), uma incómoda sombra de um passado em que o túnel das antigas Antas eram uma espécie de chuveiro de Auschwitz, de onde se saía sempre muito pior do que se entrava. Um agente da autoridade a soldo da máfia que se tornou demasiado conspícuo e desapareceu de circulação. Afinal, não só ele vive como se mantém por bem perto.

O cabecilha da Juve Leo em Alcochete após a final do campeonato de juniores - O jogo entre Benfica e Sporting em juniores tinha acabado à pedrada, com a polícia a carregar sobre o relvado e tudo a pedir porrada. Eis senão quando aparece uma imagem de José Eduardo Bettencourt, inconsolável, desanimado com tudo aquilo. Um amigo segura-lhe o rosto, amparando-o naquela hora difícil. Quem? Fernando Mendes, chefe da Juve Leo que, do alto da sua impunidade (é protagonista de alguns dos mais violentos incidentes do futebol português, incluindo uma invasão de campo em pleno Alvalade em que, completamente pedrado dos cornos, é pegado de cernelha por, adivinhem quem, Bettencourt, antes de conseguir chegar a partir a cara a alguém), com uma expressão mais de gozo que de outra coisa, parece explicar ao seu presidente: "Zé, tens que aguentar. Fazes o teu trabalho mas há coisas em que não te podes meter, entendes? Quando a gente quiser organizar uma batalha campal a gente organiza, ok? E não levantes muitas ondas porque quem manda no Sporting é a gente e já passámospor mais presidentes do que tu tens cabelos brancos."

Os deputados do Porto na Assembleia da República - A imagem de meia dúzia de deputados do Porto (do clube, não da cidade) atrás de Pinto da Costa enquanto ele falava à televisão, igual às dos ministros, autarcas, assessores ou meros penetras que se põem nas costas do primeiro-ministro quando ele vai a algum lado fazer uma inauguração e depois fala aos jornalistas é uma amostra de vassalagem que não se esquece. A maneira como o olham, bebendo as suas palavras, com admiração, como se elas fossem a eterna fonte de sabedoria, a afronta a todas as regras do bom senso que significa receber na casa da democracia um homem apanhado em flagrante a corromper árbitros, foram mais um indelével contributo para a dignificação da Assembleia da República. Que lhes tenha feito bom proveito.

O ministro no jantar de Vieira - O futebol português está em estado de sítio, as acusações batem de um lado e rebatem do outro, ao Apito Dourado responde o Apito Encarnado, o Porto diz que o Benfica tem a Justiça nas mãos e que a usa para o atacar, e o que é que o Ministro da Administração Interna, o chefe de todos os polícias, faz? Aparece num jantar de campanha eleitoral do presidente do Benfica a dar o seu apoio?
Se eu fosse portista atirava-me ao ar, porque a presença dele ali (uma vez que não é crível que tivesse qualquer utilidade eleitoral para Vieira, pelo contrário) só pode ter uma leitura: o chefe dos polícias foi lá mostrar a toda a gente, amiga ou inimiga, que sim, que de facto o Benfica tem as costas quentes.

O Joaquim Oliveira no lançamento da campanha do Movimento Benfica Vencer, Vencer (ou Vender, Vender, como preferirem) - Ora digam lá que não é de estúpido que o homem que mais tem a perder ou a ganhar com a renovação dos direitos televisivos dos jogos do Benfica apareça no momento mais público da campanha de uma das listas às eleições. Mesmo que fosse apenas por amizade (sabe-se-lá com quem), quem é que poderia acreditar, depois disso, que o Movimento de Veiga e das Veiguettes não tinha por trás uma mão negra em fibra óptica?

Sem comentários:

Enviar um comentário