segunda-feira, 15 de junho de 2009

Ali já está lá e os Quarenta Ladrões

Em pesquisa, fui dar ao blog do Eugénio Queirós, o António Ferro do pintismo, jornalista, revisionista, saudosista e malabarista. Confesso que até hoje (crédulo que sou numa superior natureza humana) deixei aberta uma porta à hipótese não evidente de Eugénio Queirós ser, na verdade, uma pessoa de inteligência superior, um manipulador maquiavélico que, na verdade, parecendo aceder às teses pintistas, o fazia apenas para, mais tarde, as desmascarar, eventualmente tentando não queimar Pinto da Costa, que parece realmente ser um seu pai espiritual.
No fundo, que EQ fosse um génio a fazer-se passar por rudimentar burgesso como disfarce. Porque, afinal, não é possível ser assim tão estúpido.

Ora hoje fui lá dar, à prosa do Queirós, e o que é que encontro, além da fotografia da gaja nua que ele lá põe sob o título de Pito Dourado (e que me leva a crer que uma boa parte da catequese do Geninho terá sido recebida sob a forma sensorial no Calor da Noite, sob a supervisão de Reinaldo Teles)?
Um texto inspirado em que EQ glorifica Cristiano Ronaldo, sobretudo, por dois motivos que aparentemente se equiparam em importância e prestígio: ser o jogador mais caro do mundo e ter conseguido pôr a Paris Hilton a dançar-lhe no colo e a (sic) "papá-lo".
Mais do que isso, EQ, rendido ao triunfo do Ronaldo, confessava, desabridamente, que se identificava com aquele moço do Funchal que tinha conseguido vencer a vida sozinho, e, em conclusão, comparava todo esse pacote de preciosidades à (sic) "gesta lusitana pela História", que o faz chorar de orgulho.

Com toda esta história, tirei várias conclusões:

- o Ronaldo é um miúdo simples de província, a quem a vida justamente deu aquilo por que ele trabalhou; um miúdo de quem eu gosto e que, se não jogasse futebol, a esta hora andava a fazer a ronda dos hotéis da Madeira, um Roni Camarinha em camisa de alças, à cata das bifas, certamente sendo muito feliz;

- os jornais de Barcelona, que puseram fotos do cu da Paris Hilton em cima do Ronaldo, em versão lap dance, na primeira página, tentando compará-lo a Ronaldinho, que só queria putas e vinho, não percebem (mas vão perceber) que enquanto o Ronaldinho, depois de ser eleito melhor jogador do mundo, passou o Verão a aprender a fazer malabarismos que só serviam para aparecer na televisão durante os intervalos dos treinos do Brasil, o Cristiano Ronaldo, passou o Verão a aprender a marcar livres, que serviram para a sua equipa ser campeã de Inglaterra e finalista da Champions, e que em Manchester, mesmo com putedo e borga nas folgas, era o primeiro a chegar e o último a sair. Isso é ser profissional;

- o Eugénio Queirós é, simplesmente, fraquinho;

- a transferência de Ronaldo ofuscou a verdadeira grande transferência deste Verão, independentemente das que ainda aí vierem: a de Ali Cissokho, defesa-esquerdo do Porto, para o Milan, por 15, potencialmente 25 (!!!) milhões.

Ou seja, o Milan acabou de pagar ao Porto um quarto da fortuna que, em tempo de crise, recebeu do Real Madrid por Kaká - 63 milhões de euros - por um defesa-esquerdo que tem seis meses de futebol de alto nível. E pode chegar a mais de um terço.
Leio a notícia na Bola e deparo-me, no canto inferior direito, com uma caixa inteiramente dedicada ao empresário António Araújo.
Nela, o jornalista enaltece a capacidade de detecção de talentos de Araújo e chama a atenção para a injustiça que é reduzir o valor do "agente" (que não empresário de jogadores, porque a empresária certificada da família, vá lá saber-se por que impedimentos legais, é a mulher...) ao de intermediário-proxeneta que o processo do Apito Dourado celebrizou.

Dou por mim a olhar para o negócio, para os seus intervenientes e a pensar no que é que o Milan realmente comprou e para quem é que foi o dinheiro.

Adriano Galliani, um dos padrinhos do futebol italiano, principal responsável pelos actos de corrupção desportiva que enviaram o Milan para a segunda divisão, e que se mantém no cargo de director-geral ou porque sabe demais ou porque Berlusconi lhe deve demasiado. Galliani veio ao Porto, de urgência, falar pessoalmente com Pinto da Costa, dado o "melindre" da situação, para fechar um negócio por um jogador que o Porto facilmente venderia, por fax, por metade do preço, como é óbvio para qualquer pessoa que não passe o Dia de Todos os Santos a escrever cartas ao Pai Natal.

Pinto da Costa recebeu o seu velho amigo Galliani (parece que vem do tempo em que o Porto jogou com o Milan na década de 70, que têm qualquer espécie de afinidade natural), para tratar de negócios, provavelmente da forma de pagamento, uma vez que Cissokho tem mais fatias que um bolo rei, de onde toda a gente tem de comer e cuja fava fica para o Setúbal, que vai receber 30 mil euros além dos 300 mil que recebeu quando o Porto o foi lá buscar há meia-dúzia de dias
O destino daquilo que o Milan pagará a mais além do valor normal do jogador é um mistério, assim como aquilo que está a pagar. Não sei se Galliani vem pagar informações sobre Mourinho, se vem explicar a Pinto da Costa qual é a parte que deverá destinar-se à sua (de Galliani) reforma, ou se veio tentar perceber porque é que deveria pagar a mais por um jogador que não passa de uma hipótese. Talvez tenha vindo receber a explicação de que, neste caso, havia um cliente à porta para receber o seu.

António Araújo, sócio de Reinaldo Teles,  que no Apito Dourado pedia autorização a Pinto da Costa para enviar prostitutas à equipa do árbitro Jacinto Paixão, tem, ao que parece, uma parte a receber pelo jogador. Se corresponder aos dez por cento do passe será 1,5 milhões de euros.
Na peça jornalística chama-se a atenção (ainda não consegui perceber se ironicamente ou de forma deliberada para fazer notar a promiscuidade do negócio, mas a perversão de valores motivada por Pinto da Costa leva-nos a isso mesmo, a admitir que um jornalista, qualquer jornalista, faça parte da camarilha ou seja um moço de fretes) para a longa carreira de Araújo como agente, tendo estado ligado, por exemplo, ao Corinthians Alagoano, esse clube de onde se transferiram para Portugal Deco ou Pepe, dois casos clássicos de transparência negocial. Não se refere, contudo, o caso do Ermesinde, onde Araújo foi director do futebol para aí colocar a rodar as suas pérolas. O talento prospectivo do fruteiro é tal que o Ermesinde, que partia para a temporada com perspectivas de subida, só se salvou da descida na última jornada.

Tendo em conta a categoria dos intervenientes, todos comprovadamente envolvidos em esquemas criminosos ligados ao futebol, o observador mais malicioso poderia, facilmente, aceitar as seguintes especulações:

- o Milan teria pago a mais pelo pobre Ali (por esta altura mais um personagem de um "Quem quer ser Bilionário?" do que jogador de futebol) talvez para pagar um favor antigo a Pinto da Costa, talvez para comprar um favor futuro (Hulk? Algo muito menos genuíno?), talvez apenas para limpar das suas contas alguns euros incómodos, aproveitando uma contabilidade tão criativa que consegue transformar um volume superior a 250 milhões de euros em receitas extraordinárias no período mais rico na história de um clube num défice anual de dez milhões de euros. Depois dos petrorublos do Dínamo de Moscovo, eis que chegariam as euroliras de Berlusconi para alimentar o insaciável dragão. De tudo isto, por razões óbvias, é melhor não falar por telemóvel, não apareça por aí, mais tarde, uma Máquina de Lavar Dourada...

- Quanto maior o montante, maiores as comissões, e aí toda a gente come, do Galliani ao Araújo, passando pelo sumo-sacerdote, que desde o tempo do Futre descobriu o maná que é negociar com gente da estranja com o mesmo gabarito.

- Com o Apito Dourado sempre pendente, o cidadão Araújo recebe uma gratificação justa pela sua lealdade, passada, presente e futura. Se tiver que fugir para a Conchinchina já não vai descalço. Paga-se ao homem, enche-se-lhe a algibeira e cala-se-lhe a boca, não vá a carne ser fraca. O homem da fruta passaria apenas a consumidor. Angariação, daí para a frente, só por desporto.

- Em contraponto, o Araújo, que é a voz do dono, fica com uma parte da sua parte, talvez vinte por cento do dízimo (300 mil euros, digam lá que é poucochinho para quem só tem de ter uma testa de ferro), e o resto vai para o "presidente" (quem é que é amigo?), no fundo o verdadeiro dono dessas partes pelas quais Araújo e a respectiva assinam de cruz.

Mas tudo isto, obviamente, é ficção. Porque, pelo que leio nos jornais, tudo é explicado pelo génio negocial de Pinto da Costa. Só acho que é um desperdício. Se Malcolm Glazer o tivesse no Manchester United, por exemplo, Pinto da Costa não só teria conseguido vender Cristiano Ronaldo por 150 milhões de euros como faria Florentino Pérez sentir-se grato e feliz por não ter pago mais.

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