sexta-feira, 5 de junho de 2009

PAPA - o manifesto político (primeira parte)

Chamo-me Hugo Leal, tenho 35 anos, nasci e vivo em Lisboa, fui jornalista e empresário, hoje sou investigador e autor de originais e atingi o limite da tolerância. Compreendi que não atingirei a paz, na velhice, se sentir que não fiz nada para evitar deixar aos meus filhos um país transformado em postíbulo, explorado pela escumalha humana, onde os seus direitos seriam diariamente sujeitos a saque e a sua integridade violentada. Jamais me perdoaria, e se até hoje, mesmo tendo um sentimento político forte, nunca me movi nesse sentido, por não encontrar motivos suficientes para isso, agora decidi mudar de rumo e intervir politicamente no estado da nação portuguesa.

Como pontos prévios ao meu manifesto político, os seguintes:

1 - Como elemento aglutinador e motivador de massas, determinando, pela sua acção, comportamentos sociais bem definidos, Pinto da Costa, presidente do Futebol Clube do Porto, é um político;

2 - Considero Pinto da Costa o principal político português do período pós-Salazar, sendo, hoje, o símbolo e principal representante de uma determinada cultura política que se instalou no país entre a Revolução de 25 de Abril de 1974 e os dias de hoje - uma cultura que caracterizo como socialmente corrupta e imoral, atentadora contra o espírito que tem de orientar Portugal;

3 - Considero legítimas as acusações de que Pinto da Costa manipulou e subverteu o sistema desportivo e legal português de forma a aumentar o seu poder e a alimentar os seus interesses pessoais, e considero que a incapacidade do actual poder judicial (quer no âmbito desportivo quer fora dele) de punir adequadamente esse comportamento representa uma falha política nacional que deve ser corrigida;

4 - Não sou apologista de ideologias políticas programáticas. Não acredito em sistemas coerentes complexos que abranjam toda a actividade social e moral do Homem e que determinem um comportamento ideal em cada situação da sua vida. Pelo contrário, acredito na política de acção pontual, no objectivo político localizado que se concretiza em si próprio, não almejando ir além dele mesmo, e que seja capaz de reunir, numa causa, indivíduos de ideologias e objectivos gerais diferentes. Acredito que a verdadeira natureza de uma sociedade se cumpre não naquilo que deveria ser mas naquilo que consegue chegar a fazer;

5 - Não quero que os portugueses deixem de fumar, deixem de beber, deixem de comer, deixem de foder, de se drogar, de se zangar, de se agredirem, de irem às putas, de se traírem, de praticarem adultério, de serem vaidosos, de libertar o animal que lhes habita nas entranhas, assim como não quero que deixem de ser e de fazer o oposto disso. Não quero um Portugal asséptico, liofilizado e normalizado, não quero maçãs sem bichos, não quero santinhos nem obrigadinhos. Quero um país com aberrações, com criminosos, com aldrabões a viverem ao lado de sensaborões, de certinhos e de virtuosos. Quero um país rico em relações humanas, diverso, activo e vivo. Não quero uma nação de zombis. Quero um carteirista no rés-do-chão e um cientista no primeiro andar. Mas não quero que o cientista tenha de sair de casa porque o carteirista decidiu subir as escadas.

Quero um país onde a lei de um tribunal seja diferente da lei de uma casa de alterne. Quero um país que se eleve, não que se arroje. Que, mesmo vivendo em equilíbrio precário, tenda para a imaginação, não para a prostituição. Quero um país onde os que possam atingir a excelência não fiquem, à infância, atolados no pântano. Não quero que os pântanos desapareçam, só exijo que não apenas eles existam. E isso implica, forçosamente, que uma pessoa que oferece prostitutas a árbitros e que combina resultados não possa, de maneira nenhuma, participar na organização de um jogo de futebol, e muito menos ser a personalidade mais influente e decisiva no universo desportivo desse país.

6 - Não é aceitável atribuir ao futebol uma importância inferior à de objecto de interesse nacional. Só uma ignorância ou um preconceito desadequados levam a que, dada a sua dimensão política, o futebol não seja visto como assunto de Estado.
Nenhuma outra causa desde o 25 de Abril de 74 mobiliza de forma tão abrangente e intensa as pessoas como o futebol. O Euro 2004 foi o momento de maior exaltação da unidade e orgulho nacionais, pelo menos, dos últimos cinquenta anos. O futebol português é, hoje, uma indústria exportadora de mão-de-obra qualificada com um retorno anual de dezenas de milhões de euros para o país. O país é reconhecido hoje, no estrangeiro, mais pelos méritos dos seus profissionais de futebol do que por qualquer outra faceta da sua história, incluindo os Descobrimentos.
Portugal tem o melhor e mais caro jogador do mundo (entre os últimos dez teve dois, Figo e Ronaldo) , o melhor e mais caro treinador do mundo (Mourinho), o maior agente de futebolistas do mundo (Jorge Mendes) e uma selecção que, considerando o poder económico do país, o campo de recrutamento e os resultados atingidos, pode perfeitamente ser considerada a melhor do mundo nos últimos cinco anos.

Os jogos de futebol são o principal motivo de congregação no país. 3,5 milhões de pessoas votaram nas últimas eleições europeias, 4 milhões foram ao futebol durante a última época. Sendo que ir votar implica ir a uma escola uma vez por ano e pôr uma cruzinha num papel e ir ao futebol implica, fundamentalmente, gastar dinheiro e todas as semanas, é significativo.
Há três jornais diários e uma cadeia televisiva dedicados, fundamentalmente, ao futebol, sendo que nos restantes meios se fala bastante de futebol e nestes quatro muito raramente se fala de outra coisa.

O futebol é o principal exercício de expressão política em Portugal e os seus dirigentes mais importantes políticos extremamente influentes no quotidiano português.
Há poucas coisas (se alguma) que sejam realmente mais interessantes e importantes para os portugueses que o futebol, e é isso que determina o seu posicionamento na sociedade, não aquilo que alguns pensam que deveria determinar.
Se a máxima "pão e circo" pode ser ofensiva para a caracterização de Portugal, ela não deixa, contudo, de ser verdadeira. E a questão de que se trata, mais do que o "pão e circo", é que pão e que circo.

7 - Pinto da Costa não representa, aqui, um nome, mas um valor.
Jorge Nuno Pinto da Costa é um indivíduo nascido no Porto, com a sua história pessoal e familiar e determinadas características que o transformaram numa espécie de capone local, um meliante invulgarmente apto, que por essa razão se distinguiu dos outros. Isso não é, por si só, extraordinário.
Pinto da Costa é a ideia. E a diferença entre Jorge Nuno Pinto da Costa e Pinto da Costa é a mesma entre capone a as caponadas: os actos de uma pessoa superam a importância dessa pessoa.
JNPC só há um, nasceu e há-de morrer. Pinto da Costa há dentro de cada um de nós. Um vigarista, um espertalhão, uma tentação sem escrúpulos.
A grande questão, aqui, é a escola. O que passa. Quando JNPC morrer Pinto da Costa vai continuar a existir, porque ele é os seus actos, e os seus actos são o que fica.
O triunfo político de Pinto da Costa significa que o futuro do país será edificado sobre as bases que ele advoga. E o que quererá isso dizer? Em resumo, que não existem regras, que não existem princípios definidores no relacionamento entre as pessoas, que aquilo que define um país, o nosso país (a solidariedade fundamental, o respeito pelas leis comuns, o saber parar onde começa a dignidade do outro, o aceder ao mal menor para atingir o bem comum, os mais sagrados princípios de convivência e entreajuda) pode ser desbaratado desde que isso resulte numa vantagem de um indivíduo ou de um grupo favorecido de indivíduos sobre os restantes, ainda que esse grupo seja numeroso.

O triunfo de Pinto da Costa significaria o gangrenamento da coesão nacional, a destruição de um espírito português e abriria espaço para um desmembramento de Portugal, para um afastamento dos valores nacionais e para um retrocesso a uma sociedade feudal que, em boa verdade, nunca foi a portuguesa, nem no tempo em que essa era a prática noutros territórios europeus.
A derrota de Pinto da Costa significaria um triunfo sobre todos os Pintos da Costa, do Governo ao bar de alterne, que estão convencidos de que o país está a saque, e que a única coisa que interessa é sacar enquanto se pode, independentemente dos que, nas galés, tentam levar o barco para a frente.

Tendo isto por base, decidi criar um novo partido político: o PAPA - Partido Anti-Pinto da Costa.

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