sexta-feira, 19 de junho de 2009

Uma verdadeira Liga (II)

(continuação)

Os clubes que integrariam o primeiro escalão da liga profissional seriam seleccionados através de critérios desportivos, económicos e estruturais.
Não é necessário partir de um número pré-definido (por exemplo os 12 que, na minha opinião, seria o ideal), pode ser ao contrário: os projectos viáveis, bem enquadrados e que façam sentido desportivamente teriam lugar. Para aumentar a qualidade, apertava-se o critério, diminuindo-se a quantidade.
O clube, além de ter de demonstrar mérito desportivo histórico, teria igualmente de apresentar, à partida, um plano económico viável para seis anos (cuja não-colocação em prática implicaria sanções terminais) e demonstrar que possui uma estrutura adequada e suficiente implantação a nível local para gerar um interesse continuado.

Porquê seis anos? Seis anos é o tempo que um futebolista leva a percorrer as competições dos escalões de formação. Teoricamente, é o tempo necessário a um clube para formar a base de uma equipa profissional com jogadores próprios. Em períodos de seis anos a composição da liga seria revista e os seus resultados analisados. Os clubes que nela participaram teriam de ter cumprido os critérios e comportado-se da maneira que se espera numa organização deste tipo e os que quisessem entrar poderiam apresentar nova candidatura.
Todas as decisões teriam de ser tomadas por unanimidade. Para um clube entrar, todos os outros teriam de aceitar. Se representassem uma mais-valia em termos de receitas não encontrariam as portas fechadas. Se fossem prejudiciais, claramente sim.

A analise dos critérios seria feita por uma comissão de elementos escolhidos por unanimidade pelos actuais membros da Liga (cinco, por exemplo), que apresentariam os resultados à Direcção. Podem ser técnicos, economistas, representantes dos futebolistas, o que interessa é que sejam escolhidos com unanimidade e com os critérios bem definidos (e de preferência elevados, para aumentar o nível do jogo).

Sem grande dificuldade encontrar-se-ia uma base de doze/catorze clubes viáveis, competitivos e representativos da geografia portuguesa. Benfica, Porto, Sporting, Guimarães, Belenenses, Braga, Marítimo, Académica, Setúbal, eventualmente Santa Clara, Leiria, Nacional, Portimonense, Rio Ave, Chaves, Olhanense, Rio Ave, enfim, qualquer clube com uma forte implantação local que conseguisse reunir, com a certeza de seis anos consecutivos na primeira liga, um projecto economicamente viável e desportivamente interessante, mesmo que actualmente não tenha méritos desportivos para a integrar. Porque não um Boavista, um Farense, clubes atingidos por cataclismos mas que não perderam, apesar disso a sua importância? Este tipo de projecto mobilizaria as forças locais, seria uma oportunidade para regiões e clubes que têm o potencial mas a quem falta a ocasião para o explorar. Uma oportunidade de baixos riscos, com muito a ganhar e pouco a perder.

Agora, a outra questão: isso não seria apostar tudo num oásis e reduzir o restante ao deserto? Não, porque o que leva à desertificação do futebol é o oposto, é proporcionar a hipótese de jogar na primeira divisão a clubes sem capacidades para isso, do que resulta, regra geral desequilíbrios financeiros insanáveis e em alguns casos irresolúveis, que podem até levar à extinção (Farense, Salgueiros, Estrela da Amadora?...).

Um dos grandes problemas do futebol português é permitir-se alimentar a vaidade de alguns provincianos egocêntricos, que são capazes de arruinar um clube pelo orgulho pessoal de andar meia-dúzia de anos a brincar ao futebol de alta competição. Sempre que um dirigente com a mania das grandezas chega à presidência de um clube pequeno, a história repete-se: começa com investimentos pessoais, continua com patrocínios locais, estende-se ao endividamento, não tarda nada já se deve ao fisco, à Previdência e aos profissionais e, de repente, a troco de um punhado de anos a lutar por subidas e não-descidas, o clube está falido e ajudou a fazer falir outros cinco ou seis - porque a partir de certo ponto entra a picardia, e quase sem se dar por isso as duas equipas da série F da terceira divisão que lutam para subir já têm, em onze jogadores, quatro brasileiros, três jugoslavos e um egípcio, em vez dos onze portugueses semi-amadores que deveriam ter.

Fechar a porta à megalomania é um passo importante no equilíbrio financeiro do futebol português. Um clube só pode subir até certo ponto - o mesmo ponto a que poderia aceder de outra forma, provavelmente, mas com a diferença de que, a seguir a isso, não vai fazer sentido endividar-se mais, porque atingiu o máximo da sua dimensão.

Além disso, os clubes mais pequenos não ficariam impedidos de competir com os maiores. Manter-se-ia a Taça de Portugal (com os sempre folclóricos momentos em que os gigantes se deixam admirar pelos paisanos) e a Taça da Liga, que em moldes parecidos com o actual permitiria a mais alguns clubes da segunda divisão jogar com os três grandes.

Outra alteração substancial e importante, já considerada actualmente, julgo, seria a de disputar os escalões secundários em formato mais regional, incentivando as rivalidades locais, diminuindo as despesas em deslocações e aumentando o interesse.

Fechar o primeiro escalão do futebol português, permitindo alterações apenas a cada seis anos, resolveria, na prática, grande parte da instabilidade económica e desportiva que afecta o futebol português.

Independentemente de outras alterações fundamentais e inevitáveis no âmbito das próprias regras do jogo, tais como a contagem do tempo efectivamente jogado, a utilização de auxiliares de vídeo em determinados momentos do jogo e a alteração da lei do fora-de-jogo (que estão sempre dependentes do International Board), esta alteração da estrutura competitiva, por si só, alteraria de forma profunda a natureza do jogo em Portugal e é a que melhor se adapta às características demográficas e sociológicas do nosso país.

A segunda parte teria a ver com a execução das regras definidas, e aí há duas palavras -chave para o bom funcionamento dos orgãos executivos da Liga: poder e autonomia.

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