terça-feira, 23 de junho de 2009

Muita fruta pró Miguel

Na Nortada de hoje, na Bola, Miguel Sousa Tavares quase se propôs para sócio do Benfica ante a perspectiva de vir a ter José Eduardo Moniz como presidente. Ficámos a saber que, para MST, Moniz é um génio da liderança, um cavaleiro da virtude e uma escolha certa para as próximas eleições, em 2012. O que, a ser verdade, seria fantástico para o Benfica. E não estou a ser sarcástico.

Permitam-me que duvide - e nem sequer tem a ver com o Moniz, tem mais a ver com o Tavares. Até ao início da saga do Apito Dourado pensava que MST era intelectualmente íntegro. A forma despudorada como defendeu o culpadíssimo Pinto da Costa desiludiu-me. Fiquei a saber que a opinião de MST era maleável, e sobretudo que não era desinteressada. Há uns anos tê-la-ia lido com grande prazer. Neste momento não acredito nela.

Há, além desse pequeno senão, algumas razões que me levam a desconfiar da bondade da história que nos estão a tentar vender e da integridade absoluta do Moniz - e isto desejando eu ardentemente que alguém decente tirasse o Vieira do poleiro, entenda-se.

Antes de mais nada a incoerência de um movimento que, supostamente, teria Moniz como pedra-angular já há mais de três meses, mas que não está preparado para a antecipação de eleições? Então se as coisas estavam já pensadas para o Moniz qual é o problema das eleições serem antes? Não devia ser o contrário: quanto mais cedo melhor, para não apanhar o campeonato em andamento?

Como é que o Moniz justifica a renúncia com o adiantamento das eleições? Qual é o problema? A não ser que, na verdade, o Moniz não tivesse ainda pensado seriamente em ser presidente do Benfica nem tivese nada preparado, o que atentaria gravemente contra a sua propalada competência. De facto, a ideia que passa é que o Moniz foi apanhado com o projecto em cima do joelho, e que por isso achou melhor não ir a jogo.

A outra justificação para não se candidatar é ainda mais espantosa. Diz ele que não poderia pegar num projecto que é de outros, ou seja, que não seria justo ter de gerir uma equipa formada por Vieira e Rui Costa. Mas o que raio é que iria acontecer se as eleições fossem em Outubro?! Não seria muito pior? Não estaria já a equipa fechada? Ou o Benfica não iria contratar nem treinador nem jogadores até ao terceiro mês de campeonato? É evidente que, sendo as eleições em Outubro, qualquer novo presidente teria de encontrar a equipa e equipa técnica fechadas (e em grande actividade, acrescente-se).
Novamente, não bate a bota com a perdigota.

Finalmente (e isto bastaria para duvidar da integridade de Moniz), o factor principal de desconfiança: Veiga.

Primeiro ponto: a ideia que passa é que Moniz é uma escolha de Veiga para tapar um buraco, dada a impossibilidade de ele próprio concorrer às eleições. Aliás, toda a argumentação por parte dos elementos mais públicos do Movimento Benfica Vencer Vencer aponta para que Veiga fosse o verdadeiro candidato, e que foi por isso que Vieira antecipou as eleições - para não ter de o enfrentar em Outubro, devido à antiguidade como sócio. Consequentemente, Moniz foi uma solução de recurso, um desenrascanço de última hora. O que contradiz a teoria de que Moniz já estivesse a ser pensado para o cargo há vários meses.

Como é que um suposto mestre da liderança aceita fazer o papel de uma solução de desenrascanço?

E como é que é o futuro director do futebol quem convida o futuro presidente para integrar as listas?
Hã?
Pois.
Antes de haver Moniz sempre houve Veiga, todo o Movimento foi construído no pressuposto de entregar o futebol ao Veiga, e no fim acaba por ser Veiga a convidar Moniz para ser presidente. Mas afinal como é que o futuro subordinado escolhe o presidente que vai ter?
Quem seria o chefe?
Quem é que teria a legitimidade de demitir quem?
Seria, certamente, a primeira vez na história do desporto que um empregado escolheria quem iria ser o seu futuro patrão.
Que autoridade teria Moniz ante Veiga?
Quem mandaria, de facto, no Benfica?
Que papel teria Moniz? O de fantoche? Impossível, segundo Miguel Sousa Tavares.

Mas o que Moniz disse é que não aceitava por causa, primeiro, do golpe estatutário, e depois porque não queria ter de gerir os projectos dos outros.
O que nos leva à última (e chegava esta) razão para desconfiar da moralidade limpa de Moniz.

Como é que ele aceitaria trabalhar com José Veiga?

Porque são coisas inconciliáveis, note-se.

Para Miguel Sousa Tavares, José Eduardo Moniz é um elemento com integridade à prova de bala. Como é que ele poderia trabalhar (e ainda para mais numa situação de ambiguidade de poderes) com um autêntico escroque, como é Veiga, segundo MST, um corrupto que, segundo ele (vi na TVI, curiosamente, lembro-me bem desse dia) comprou o último campeonato do Benfica, corrompendo árbitros, clubes e jogadores adversários (o célebre Apito Encarnado, de que MST fala recorrentemente), um vigarista da pior espécie? E que ainda por cima estava lá antes dele?

José Eduardo Moniz estaria pronto para ganhar campeonatos utilizando métodos criminosos?

Não, nesta Nortada há qualquer coisa que cheira mal, e muito me surpreende que Miguel Sousa Tavares, detentor de um espírito arguto e interrogante, não se tivesse colocado diante estas dúvidas tão básicas.

Pensando melhor, não, não me surpreende. É que para MST a felicidade está em destruir Luís Filipe Vieira, e para mim está em salvar o Benfica de todos os Luis Filipe Vieira.

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